DiVersos nº38

DiVersos nº38

O que o editor gostaria desde já de realçar é que, ao destacar em capa o poeta Dante Milano, cumpre um desiderato que se prolongou desde há vários anos. Veja-se porquê mais adiante, na rubrica Do Editor.
Dante Milano, poeta demasiado grande para poder ser popular, e talvez por isso tão largamente ignorado em Portugal, onde foram populares grandes poetas brasileiros, como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Jorge de Lima, que apesar de populares foram sem dúvida grandes.

Também do Brasil, chega-nos um novo livro, Iniciações, de Anderson Braga Horta, de que selecionámos alguns poemas, a que Ronaldo Cagiano chama prosoemas ou mininarrativas em clave de poesia. De Braga Horta, tínhamos já, no n.º 23 da DiVersos em dezembro de 2015, inserido uma seleção de poemas que retirámos do seu livro 50 Poemas Escolhidos pelo Autor.
Ainda do Brasil (ou não tivesse a DiVersos procurado estar quanto possível atenta à poesia brasileira), selecionámos alguns poemas de Elisa Andrade Buzzo (já antes presente nos n.ºs 11, 19, 27 e 36), do seu recente O Livro de Sagres. Há vários anos a estudar e investigar em Lisboa, Elisa é uma firme amiga da DiVersos, para a qual, ao longo dos anos, encaminhou vários jovens autores e tradutores. Neste novo livro, filtrada pelo olhar de uma paulistana e do que teriam sido os portugueses de Quinhentos, surge com força a paisagem do sudoeste algarvio, a verdadeira protagonista de O Livro de Sagres.

Este número da DiVersos apresenta, como tradução de poesia: Edna St. Vincent Millay, traduzida do inglês norte-americano dos Anos 1920, por João Vilhena; Ekaterina Kancheva, traduzida do búlgaro por Zlatka Timenova; Fady Joudah, filho de refugiados e escrevendo em inglês, médico palestiniano residente nos Estado Unidos, numa curva da história especialmente dolorosa. Há também três poemas de Rainer Maria Rilke traduzidos do alemão por Maria do Sameiro Barroso. Pela mão de Nicolau Saião, chega até nós o poeta surrealista croata Radovan Ivsic. Noutros sentidos da tradução, Bernardette Capelo escreveu em francês as Scènes d’Enfants, que, a nosso pedido, traduziu para português. Neste número, sai a II parte da miniantologia de Gonçalo Salvado. Nela integram-se poemas seus traduzidos em espanhol, árabe e hebraico. Esta última língua figura pela primeira vez na DiVersos.

Em língua portuguesa, além dos já referidos Dante Milano, Anderson Braga Horta e Elisa Andrade Buzzo, temos desta vez uma celebração de Camões por Cristino Cortes; poesia de Francisco José Craveiro de Carvalho, mais assíduo como tradutor e que como tal nos traz Dag Hammarsköld, cuja obra póstuma em sueco, Vägmarken, foi traduzida para o inglês por W.H. Auden, sob o título Markings. Na versão portuguesa de Francisco José Craveiro de Carvalho, foram escolhidas algumas dezenas dos haiku constantes da obra.

Tendo publicado já poesia em livro, quase todos mais de uma vez, temos paulo da costa, nascido em Angola, formado em Portugal e há muitos anos radicado no Canadá, e por várias vezes já incluído na DiVersos. Figuram pela primeira vez Freire Falcão, Gil de Carvalho, Ilda Hopp, João Pedro Mésseder, Jorge Velhote, José Viale Moutinho, Nunes da Rocha, Ricardo Álvaro e Tiago Alves Costa, português de Famalicão radicado em Barcelona e que vai trazer-nos versões do galego e do catalão para um próximo número.

No final deste número, na página 169, encontra-se a rubrica Correio dos Leitores, que retoma o tema da «tradução automática», já abordado no n.º 37. A seguir, como habitualmente, situa-se a rubrica Publicações Recebidas.

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A Morte da Natureza: as mulheres, a ecologia e a revolução científica

A Morte da Natureza: as mulheres, a ecologia e a revolução científica

O LIVRO

Tradução: James Carvalho Powell
Revisão: James Carvalho Powell e José Carlos Costa Marques
Edições Sempre-em-Pé, Águas Santas, 2024

Design gráfico e pré-impressão: Helena Marques (heldesign.pt)
Capa: Helena Marques e Cristóvão Neto

O livro de Carolyn Merchant, A Morte da Natureza: As Mulheres, a Ecologia, e a Revolução Científica, foi publicado em 1980 pela editora americana HarperCollins, em São Francisco (Califórnia, EUA). Quando da sua publicação, o editor, John Shopp, afirmou que o livro estava à frente do seu tempo. Agora em 3ª edição (2020), e a celebrar o quadragésimo aniversário da primeira publicação, inclui um novo Epílogo e um novo Prefácio.

Nos últimos quarenta anos, o livro A Morte da Natureza moldou os campos da História da Ciência, dos Estudos das Mulheres e da História Ambiental, bem como influenciou as ciências sociais, políticas e económicas. Já foi tema de mais de 130 recensões críticas, tópico de grandes simpósios, apresentado em secções especiais de revistas, e também tema de palestras em todo o mundo. Já se encontra traduzido e editado em 9 línguas: japonês, alemão, italiano, sueco, chinês, coreano, francês, espanhol e português. Em 2018, foi publicado um festschriftAfter the Death of Nature (Após a Morte da Natureza).

Ao longo dos quarenta anos de vida do livro, três contribuições parecem destacar-se. O livro constituiu uma crítica inicial aos problemas do modernismo e especialmente da ciência mecanicista e da visão do mundo a ela associada, permitindo uma reavaliação do otimismo e progresso do iluminismo.  Em segundo lugar, à medida que o ecofeminismo ganhou atenção nos anos 1980 e 1990, o livro passou a ser visto como uma afirmação clássica da relação mulher-natureza.

Por último, o livro apontou o caminho para uma reavaliação da relação ética humana com a natureza, afastando-se das ideias de domínio e aproximando-se de uma nova parceria dinâmica entre as pessoas e o seu meio ambiente.  

Ao longo dos anos, em inúmeras reuniões e palestras realizadas em vários continentes, os leitores têm vindo a afirmar que A Morte da Natureza afetou as suas vidas e mudou toda a sua forma de pensar.

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DiVersos nº37

DiVersos nº37

Quase em vésperas do seu 30.º aniversário, a DiVersos publica o seu 37.º número, com a habitual abertura à poesia de autores em língua portuguesa e à poesia traduzida de várias línguas e cantos do mundo.

Quanto aos primeiros, completamos agora a miniantologia que dedicámos à memória de António Salvado (1936-2023). De língua portuguesa, pela primeira vez na DiVersos, David Rodrigues, autor de vários livros de poesia e professor catedrático aposentado, pianista de jazz, dedica-se em particular à poesia haiku. De Gonçalo Salvado, introduzimos a primeira de duas partes de uma miniantologia, a primeira das quais com poemas apenas em português, ficando para o n.º 38 uma segunda parte com poemas em português e traduções de poemas seus para o castelhano, o árabe e o hebraico.

De João Taborda da Gama, que como nota biográfica opta por um «etc. etc. etc.», inserimos poemas que pediriam, alguns, diz José Lima que o convidou, para ser publicados como legendas de uma imagem. Hélas, a DiVersos normalmente não inclui imagens… Mas não obsta! Mara Rosa andou pela Amazónia brasileira e em pesquisas arqueológicas, e, regressada ao seu Alentejo natal azul-ultramarino, dedica-se também à arte do barro. Maria Estácio Marques destaca como o mais determinante para si a leitura de quase toda a obra de Carl Gustav Jung, designando-se convictamente como «poetisa», termo de que se não envergonha apesar da moda atual de recorrer ao masculino «poeta». Romeu Foz, com raízes em Amares, Minho, lugar que vê como seu lar no mapa das afetividades, é doutorado em Estudos Lusófonos, e traz-nos uma poesia que faz do mar um chão e do chão um mar. Rui Pedro Cardoso pertence à rara estirpe, ou não tão rara, dos engenheiros poetas. «A Solidão do Marido» (estirpe não tão rara?) é o título que deu a um conjunto de poemas de que foram extraídos os que enviou à DiVersos.

Ainda de poetas que escrevem em português, e já antes constantes da DiVersos, Mariana Ianelli reside em São Paulo, Brasil; Ronaldo Cagiano, vindo também do outro lado do Atlântico, de Cataguases, Minas Gerais, fixou residência em Portugal. Mariana fala-nos da «flor de Marte» e da «Terra à míngua», Ronaldo afirma que «a vida não tem métrica, mas tem «infância» e «assimetria».

Falamos agora da tradução de poesia, um dos dois pilares da DiVersos. De um modo mais específico, na página seguinte, «Do Editor». Neste sumário, e com frequência na DiVersos, temos Maria do Sameiro Barroso, ora traduzida para outras línguas, ora traduzindo para português poetas de outras línguas, ora escrevendo originalmente noutras línguas e traduzindo-se ela própria para português e convidando, por via do inglês, poetas de outras línguas a traduzi-la. Neste número, tudo isso se passa de uma só vez, a partir de um poema por ela escrito em alemão, e traduzido, entre muitas outras, para duas novas línguas na DiVersos: o siciliano e o malaio.

Francisco José Craveiro de Carvalho, poeta, e tradutor de poesia unicamente por gosto, traz-nos neste número o poeta americano Robert D. Wilson, veterano da guerra do Vitenam, e residente nas Filipinas, um poeta que aprecia a brevidade e concisão do haiku, de que foram traduzidos 20, e da tanka (um pouco mais longa: mais dois versos…), de que traduziu 11. Francisco José Craveiro de Carvalho é ele próprio autor do livro Cinco, que adota a tanka como forma, publicado pelas Edições Sempre-em-Pé.

Na habitual rubrica «Publicações Recebidas», destacamos três poetas portugueses, de cada um dos quais selecionámos um poema: Guilherme de Faria (1907-1929), que José Rui Teixeira (Officium Lectiones Edições) tem vindo a colocar no elevado lugar que deve ser o dele; manuel maria aboim (assim, em minúsculas) e José Viale Moutinho (ambos nas Edições Afrontamento).

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DiVersos nº36

DiVersos nº36

Apenas 120 páginas desta vez. E apenas nove autores de língua portuguesa; somente quatro tradutores e somente três autores traduzidos. Com exceção do número de páginas (esse sim, resultante de uma defesa face à inflação), a redução não é intencional, deriva antes da extensão maior, circunstancial, de alguns autores, por opção do editor. É o caso sobretudo da miniantologia de António Salvado – que é também uma homenagem – e que é apenas, por agora, metade do que tencionamos publicar, a completar no n.º 37, previsto para a primavera-verão de 2024. E é igualmente o caso de Deodato Santos, cujas Variações podem surpreender pela arrumação fragmentária e pela multiplicidade de perspetivas, mas que nos pareceram só ganhar sentido se inseridas na íntegra.

Outros autores de língua portuguesa: Ana Isabel Mouta, de quem já há alguns anos se incluíram aqui alguns poemas, e de cujo primeiro livro, Paiol, no prelo, selecionámos alguns outros; Eduarda Chiote, com um longo poema (um poema de poemas) dedicado a Arnaldo Saraiva, escrito no tempo de casulo que foram os confinamentos da pandemia de 2020; e Luísa Palma, que publicou na DiVersos várias vezes desde o n.º 3, uns «escritos breves como breves são as nossas vidas» onde ecoa o timbre alentejano e suas lonjuras.

Pela primeira vez na DiVersos, mas com obra há muito firmada, Diogo Vaz Pinto, convidado por José Lima, que dele escolheu poemas retirados do blogue do Autor e um deles do seu livro mais recente, Sombra Selvagem; e Joaquim Saial, com vasta obra de erudito e investigador além de poeta, de quem aqui trazemos uma «Balada da hora de ponta», na qual humor e realismo se entretecem, e dois poemas da série «Poemas do Rock’n’Roll», que evocam Bob Dylan e Ginger Baker.

Quatro tradutores, dissemos. Dois deles do português para outras línguas, com poemas de António Salvado traduzidos para o japonês por An Oshiro, e para o romeno por Elena Liliana Popescu. Pela mão de Francisco José Craveiro de Carvalho, de outras línguas para o português: do castelhano, alguns poemas de Eloy Sánchez Rosillo, e do alemão, de Michael Krüger, tomando como ponte a versão inglesa de Hans-Christian Oeser.

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DiVersos nº35

DiVersos nº35

Durante a preparação deste número, ocorreu a morte de António Salvado. Iríamos incluir nele mais alguns poemas que escreveu traduzidos em línguas não muito frequentes aqui, romeno e japonês. Decidimos então transferi-los para o n.º 36, de modo a podermos entretanto preparar uma miniantologia dos seus livros mais recentes. A primeira vez que a DiVersos incluiu poemas de António Salvado foi no n.º 12, de dezembro de 2007. Depois disso muitos livros seus foram publicados. Com isso queremos lembrar uma obra vastíssima de poeta, que foi também de estudioso e de tradutor, e a que não foi dado ainda o devido relevo.

Neste número 36, com menos cerca de 30 páginas que o habitual (inflação obriga), incluem-se autores de língua portuguesa, dois dos quais brasileiros, Alexandre Guarnieri e Ana Elisa Ribeiro. De nacionalidade portuguesa mas como cultora do mirandês, Adelaide Monteiro, que traduz ela própria dessa língua para o português. Seis autores de nacionalidade e língua portuguesa, alguns dos quais já antes incluídos noutros números: António Cândido Franco, Eduarda Chiote e Isabel Carvalho, além de Maria do Sameiro Barroso, na dupla qualidade de autora e tradutora. Dois outros poetas portugueses são incluídos, estes pela primeira vez, e ambos com um número representativo de páginas. Rui Cóias, com um único poema na íntegra, mas que podemos considerar como consistindo em 16 subpoemas, em 16 páginas. Ana Rodrigues, com um número de páginas e poemas equiparável: 13 e 19, respetivamente.

Quanto a outros autores traduzidos (falámos já de Adelaide Monteiro e Maria do Sameiro Barroso), referimos o poeta grego Ángelos Sikelianós – que, tal como Giannis Ritsos, se poderia pôr a par dos dois poetas gregos Prémio Nobel, Giorgos Seféris e Odysséas Elytis –, traduzido por Maria da Piedade Faria Maniatoglou a quem a DiVersos deve já a tradução de alguns outros poetas dos séculos XIX e XX, e Susana Benet, de Valência, Espanha, que tem cultivado em especial o haiku, traduzida por Francisco José Craveiro de Carvalho que tem figurado frequentemente nas nossas páginas como tradutor e também por vezes como poeta.

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DiVersos nº34

DiVersos nº34

Se alguma caraterística distingue este número do padrão habitual da DiVersos, será que, em 17 autores, apenas cinco são autores traduzidos para português (sem contar portanto com Tahar Bekri pelas razões apontadas na página anterior). Ou seja, um terço, quando costumam rondar a metade. Billy Collins, poeta americano traduzido do inglês por Francisco José Craveiro de Carvalho, numa apresentação bilingue; Dusan Matic, poeta sérvio muito próximo dos surrealistas franceses, aqui presente em versão portuguesa de Nicolau Saião; José Watanabe, poeta peruano de extrema imaginação visual, traduzido do castelhano por José Lima; Lathaprem Sakhya, poetisa e pintora indiana que escreve e traduz em inglês, hindi, malaiala e tâmil, e vertida em português por Maria do Sameiro Barroso; e Yuleisy Cruz Lezcano, poetisa cubana radicada em Itália, traduzida por Carlos Ramos.


Mas o espetro linguístico não se reduz ao português, ao inglês, ao francês ou mesmo ao sérvio; nem mesmo ao malaiala e ao tâmil, línguas nunca antes vistas nestas páginas. Também, em traduções de poemas em português da autoria de António Salvado, estão presentes pela primeira vez mais dois registos linguísticos: esperanto e mirandês. No poeta angolano Carlos Monteiro Ferreira, que escreve em português, ecoam línguas de Angola, nomeadamente o umbundu e o kimbundu; em Luísa Costa Gomes, escritora portuguesa firmada sobretudo pela sua ficção, vamos encontrar o papiamento, crioulo baseado no português e no espanhol, ainda vivo e ativo no Caribe holandês. E, por falar em holandês, o poeta basileiro Zuca Sardan, de quem tivemos conhecimento por Ana Carvalho (que nos trouxe já anteriormente vários autores traduzidos do neerlandês e do africânder / afrikaans) sob forma de uma antologia bilingue português-neerlandês, aparece nesta DiVersos com uma miniantologia por nós selecionada. A nosso pedido, o primeiro e último poema dessa seleção figuram ao lado da sua tradução em neerlandês por Harrie Lemmens, que traduziu já para o neerlandês mais de 100 livros de autores de língua portuguesa. Se isto não é admirável…


Mas o arco-íris linguístico está também, como já vimos, em alguns autores de língua portuguesa. É, mais uma vez, o caso de Maria do Sameiro Barroso, que surge com um poema em português por ela traduzido para inglês e alemão, e para o malaiala e o tâmil por Lathaprem Sakhya. Maria Okeanida, madeirense radicada em Toulouse, numa segunda colaboração com a DiVersos, traz-nos poemas em português, sendo que em dois deles encontramos várias linhas em francês, como integrantes do poema e não como tradução. De António Salvado vimos já que por via dele somos introduzidos ao esperanto e ao mirandês em que foram traduzidos alguns poemas seus; na poesia de Carlos Monteiro Ferreira perpassam algumas línguas africanas, como referimos.


Outros autores de língua portuguesa (citámos já, além de outros, Maria Okeanida, Maria do Sameiro Barroso, Luísa Costa Gomes e Zuca Sardan) são também neste número Ana Lobo (com sua predileção «japonesa» pelo haiku), António Cândido Franco, Nadine Nevsky, Paulo Jorge Brito e Abreu, Sofia Sampaio e Tatiana Faia. Desta última, esperamos a oportunidade de tê-la futuramente em traduções suas a partir do grego clássico e do grego moderno, vindo assim juntar-se, se o quiser, aos helenófilos que povoam a DiVersos desde o seu primeiro número: Manuel Resende (com enorme saudade), Rosa Salvado Mesquita, Maria da Piedade Maniatoglou, o próprio editor da DiVersos, e, para o grego clássico, Alípio Carvalho Neto, escritor brasileiro que traduziu Arquíloco. Mas, escrito em Atenas, o poema de Tatiana Faia inscreve-se já, desde a dedicatória ao local de primeira escrita, e sobretudo pelo que evoca, na nossa tradição helenófila.

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DiVersos nº33

DiVersos nº33

A DiVersos é feita com aqueles a quem chegamos e nos recebem e acolhem, e com aqueles que vêm ter connosco espontaneamente.
Neste número 33, atribuído ao período da sua finalização, o outono de 2021 e o inverno de 2021-22, encontramos cinco poetas do Brasil (Adri Aleixo, Adriane Garcia, Ana C Moura, Demetrios Galvão e Francesca Cricelli, esta atualmente residente na Islândia – do calor tropical ao frio nórdico), nove poetas portugueses (Amadeu Baptista e Cristino Cortes, ambos com excertos de livros recentemente publicados; Deodato Santos, Eduarda Chiote, Emerenciano — este um artista plástico e poeta visual, Fernando Henrique Barros, Manuela Nogueira, Maria do Sameiro Barroso e Rui Magalhães), e um poeta angolano radicado em Lisboa, Zetho Cunha Gonçalves. Ou seja, 15 poetas de língua original portuguesa.

Excecionalmente, neste número, apenas aproximadamente um quarto dos autores é proveniente de outras línguas (do grego moderno, Giorgos Sarantáris, traduzido por Maria da Piedade Maniatoglou; do islandês, Guðrið Helmsdal, traduzida por Luciano Dutra, poeta brasileiro radicado em Reykjavík há vinte anos; Mark Young, poeta australiano de língua inglesa; Ron Winkler, poeta de língua alemã traduzido por Viviane de Santana Paulo, nascida em São Paulo e radicada em Berlim; e Tahar Bekri, poeta tunisino que vive em Paris, com quatro poemas escritos em árabe, por ele próprio traduzidos para francês, e daí para português por Bernardette Capelo; acrescentam-se dois poemas escritos originariamente em francês pela mesma tradutora. Sendo a primeira vez que a DiVersos inclui um autor de língua árabe, introduz-se assim um novo motivo de interesse do ponto de vista também visual e tipográfico. Esteve prevista a inclusão de mais duas línguas, mais dois alfabetos diferentes, tâmil e malaiala, ambos da Índia, com um poema de Lathaprem Sakhya, poetisa do Kerala, que, por dificuldades técnicas tiveram que ficar adiados para o n.º 34 da DiVersos, assim o esperamos. Para concluir este sumário, uma nota de pesar pelo falecimento de dois poetas que nos honraram com a sua presença, um deles, Pedro Tamen, no n.º 13, em junho de 2008, outro, José Pascoal, no n.º 30-31, de novembro de 2020. A eles dedicamos este número 33. Em sua memória.

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Canção do silêncio

não digas nada
é assim que dizes melhor

luto com as sombras meço no passado
o que foi teu
o que foi meu

o que ficou dentro de mim mesmo
e não sai
e não vai para ti

não digo nada
é assim que digo melhor

Rui Tinoco

Este poema «Canção do silêncio» de Rui Tinoco saiu com erro de paginação na DiVersos nº32: deveria estar todo ao alto da página 142, título incluído. Por erro, o título vem como última linha da página 141. Ao autor, as desculpas do editor.

De cor

Entregas-te a essa terra musical
E enterras a semente que dá cor
De cor
Como se de frutos fosse feita a sementeira alheia

Comes o olvido e a memória na mesma refeição

Pões cuidados e cetins no teu enorme rio
A nadar a tua sobrevida

A solidão
Não te traz nem ritmo nem sentido aos dias
E a noite
É o lugar blindado da cegueira

Onde vai agora a pressa que já não se vê o tempo?

E se fosse apenas essa a mácula parasita, haveria ainda jarros e violetas, e pássaros em redor?

Cláudia Oliveira

Este poema «De cor» de Cláudia Oliveira saiu com erro de paginação na DiVersos nº32, aqui na forma correta em que deveria ter sido paginado nas páginas 33-34. Forma um só poema com o que aparece na página 34 como se fosse um poema separado com o título «A solidão». À autora, as desculpas do editor.

DiVersos nº32

Vinte e cinco anos, um quarto de século, são quantos comemora a DiVersos – Poesia e Tradução com este número 32, a sair em junho de 2021 – e esperamos comemorar ainda com o próximo, que prevemos para o outono de 2021. Isso quer dizer que, não obstante um ou outro período de dois ou três anos em que esta série não periódica se não publicou, em média editámos pouco mais de um número por ano. Esse vagar da nossa marcha – bem conhecido dos nossos assinantes e colaboradores – tem permitido no entanto agregar, em volta de uma publicação modesta e austera, um núcleo persistente de leitores, autores e tradutores, e de ir ampliando, não só o número de páginas, também o número de línguas representadas, e mesmo o número de «alfabetos», como com esta 32.ª edição se torna mais percetível. Sabemos que grande parte de nós leitores – a começar pelo editor –, de alguns desses alfabetos apenas poderemos considerar o seu aspeto visual e estético. Mas é o suficiente para dar algum contributo à contemplação da variedade não só das línguas mas também das representações visuais destas, e ao apreço pela dignidade, valor e respeito por todas elas.

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DiVersos nº30/31

Um número de homenagens na DiVersos (mas todos o são), este número duplo 30-31. Todos o são, porque o espírito humano não distingue, essencialmente, entre mortos e vivos. Nele, essencialmente, todos são vivos. Não obstante, é uma homenagem com carinho especial a que fazemos a Manuel Resende e a António Fournier. De gratidão pelo que representam na biografia da DiVersos. Manuel Resende: foi dele a ideia de criar esta série. Foi ele quem lhe deu o nome – e a latitude e abertura fora de qualquer espírito de capela ou de escola. António Fournier: um tradutor que veio ter connosco trazendo consigo a Itália e a Madeira, e nos deixou a saudade da sua grande generosidade e delicadeza. Homenagear é comemorar e recordar. Por coincidências múltiplas, este número recorda, aproveitando a convencionalidade das datas, um grande vulto do século XVIII, Hölderlin, e outro grande do século XIX, Herman Melville. Mas também uma poetisa grega falecida neste mesmo ano de 2020, Kiki Dimoulá, e uma poetisa portuguesa falecida em 2016, Maria Amélia Neto, cuja inexplicável obscuridade despertou o nosso inconformismo e a esperança de contribuir para a trazer à claridade que deve ser a dela.

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DiVersos nº29

Ao vigésimo terceiro ano de publicação da DiVersos, neste n.º 29 incluem-se vinte poetas, oito dos quais em tradução. Desde o número 16 optámos sempre que possível por incluir os poemas traduzidos precedidos do texto na língua original, no sistema face-a-face: à esquerda, em página par, o original; à direita, em página ímpar, a versão em português. Hoje, pela primeira vez em dois autores traduzidos, há uma terceira língua, intermédia, ou de transmissão, pelo que, para esses casos, optámos por uma apresentação em sequência, e não face-a-face, que se tornaria impraticável. Em Adam Zagajewski, surge primeiro o texto da versão portuguesa, em tradução de Francisco J. C. de Carvalho, em seguida a versão em castelhano, que serviu de correia de transmissão, e, finalmente, o original polaco. Em Stefano Marino, vem, à cabeça, o original em regino – para todos os efeitos uma língua em si, mais do que um dialeto, como vulgarmente se lhe chama, se considerarmos critérios propriamente linguísticos mais do que políticos, como nas línguas oficiais dos Estados. E em seguida, em tradução do próprio autor, a versão em italiano, seguida por fim da versão em português de António Fournier.

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DiVersos nº28

A Ana Elisa Ribeiro um agradecimento especial

No poema «hoje acordei» (na página 147 desta antologia), Micheliny Verunschk termina assim um dos poemas do seu livro A cozinha de Buda:
mas é que hoje acordei
com a chuva chiando
na panela de tudo
Ao deparar com o último verso citado, pareceu-me que ele se ajustava bem ao que é esta antologia. Nela se reúnem 71 poetas do Brasil presentes na iniciativa Leve um Livro, que Ana Elisa Ribeiro nos apresenta três páginas adiante. Com Bruno Brum, Ana Elisa editou essa série ao longo de três «temporadas», 2015, 2016 e 2017. Se tivesse sido possível continuar, muitos outros poetas do Brasil, segundo ela, teriam dado origem a outras «temporadas», o que não está definitivamente ausente do campo dos possíveis. O título desta nota editorial, pedido de empréstimo a Micheliny Verunschk, dá bem ideia da plasticidade proteica do material poético aqui agrupado. Nesta antologia ferve, numa excelente sopa, uma enorme variedade de temas, referências culturais, sentidos e sentimentos. Não há aqui qualquer «mesmice», nenhuma monotonia de repetição de um mesmo estilo, maneira ou maneirismo, de assunto ou de ausência dele, mesmice que por vezes afeta a poesia de determinadas épocas em determinadas literaturas.

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DiVersos nº27

Em memória de Carlos Felipe Moisés

Pela primeira vez em mais de vinte anos, um dos colaboradores de um número da DiVersos morre em pleno período de preparação desse número – neste caso o nº27. Carlos Felipe Moisés chegou até nós – tal como, também neste número, Renata Pallotini –, pela mão amiga de Elisa Andrade Buzzo, ela própria aqui presente com alguns poemas do seu livro Notas errantes. Carlos Felipe Moisés não chegou a ver a DiVersos com a sua miniantologia, a que o convidámos, e que ele próprio selecionou e organizou. As mensagens que a propósito dela trocámos entre maio e julho de 2017 revelaram bem que estávamos perante pessoa extremamente gentil e afável. Em meados de agosto enviámos-lhe essa miniantologia em prova digital, para que a verificasse. Ignorávamos que não iríamos ter resposta – Carlos Felipe Moisés falecera por aqueles dias. Foi para nós um choque – como sabemos que o foi para os seus próximos, para os amigos e muitos que o admiravam como escritor, como poeta e como pessoa.

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DiVersos nº26

Ao fim de vinte anos, a DiVersos consagra pela primeira vez um número inteiro a uma só literatura, a poetas de uma só ou principal pertença geográfica – mas não de uma só língua. Este número especial é dedicado a Dez Poetas de Cabo Verde. Dois deles, João Vário e Mário Fonseca, estão representados por poemas ecritos originariamente em francês e aqui traduzidos para português – se bem que a poesia de João Vário tenha sido escrita sobretudo em português, ao passo que a de Mário Fonseca o foi principalmente em francês. Outros, como José Luís Hopffer C. Almada, sob o nome de Ezeami di Sant’y Águ, e Kaká Barboza, estão aqui também representados, para além de poesia escrita em português, por poemas escritos na língua cabo-verdiana, a língua nacional de Cabo Verde, acompanhados de tradução para português. Quanto a António de Névada, Filinto Elísio, Jorge Carlos Fonseca, José Luiz Tavares, Mário Lúcio Sousa e Vasco Martins surgem neste volume com poemas em português. Todos eles, e ainda José Luís Hopffer C. Almada e Kaká Barboza, tiveram a extrema gentileza de aceder ao nosso pedido de cederem inéditos seus para este número da DiVersos.

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DiVersos nº25

As origens da poesia e da música perdem-se no tempo e são indiscerníveis. Até aos trovadores medievais, pelo menos, essa associação foi sempre mais ou menos estreita. E mesmo depois disso, apesar de uma separação de onde nasce a poesia «meramente literária» cuja música passou a ser interior ao próprio texto aparentemente sem música exterior, música e poesia continuam muitas vezes entrelaçadas. Passam a ser os músicos que procuram a literatura, ora para obterem libretos de óperas, por exemplo, ora para, partindo de poemas previamente existentes, agora «musicados», darem origem a canções e melodias de que revestem o texto. É pois sobretudo no Lied, nome que de certo modo pode designar todo o género, que sobretudo se exprime a proximidade das duas artes, embora não exclusivamente. O facto de começarmos esta «etiqueta» com um poeta e um compositor escandinavos, ambos noruegueses, é fortuito. Em próximas expressões desta rubrica, outros compositores de outras pertenças e trabalhando sobre poemas de outras línguas serão escolhidos. Por vezes, refere-se que este ou aquele autor de um poema que algum grande compositor transformou numa canção ou melodia famosa não passava de um «poeta menor», em contraste com alguns outros que foram génios da poesia. Tal não nos inibirá de por vezes escolhermos algum desses poetas já que, a nosso ver, se poderá haver «poetas menores», mesmo esses poderão ter produzido poemas que não são menores. Serão pois os poemas, mais que os poetas, que nos guiarão neste exercício. Para o qual convidamos os leitores a colaborar, sugerindo poemas e compositores a incluir futuramente.

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20 Anos de DiVersos – Poesia e Tradução

Esta série DiVersos – Poesia e Tradução iniciou-se em 1996 como uma publicação muito simples de poucas páginas. Proposta por Manuel Resende a três colegas numa instituição europeia onde trabalhavam, Carlos Leite, Jorge Vilhena Mesquita e José Carlos Marques, teve desde o início a ajuda muito próxima de um outro, José Lima, que ainda hoje a acompanha. O grafismo da capa do primeiro número, igualmente muito simples, deveu-se a Vasco Rosa. Ainda hoje se conserva, embora com alguma derivação circunstancial no tipo de letra usado, e, uma vez por outra, o acréscimo de uma vinheta ou de uma legenda suplementar.

Mantendo-se simples e discreta ao longo de duas décadas, a publicação foi gradualmente crescendo em número de páginas, não devido a algum êxito comercial ou mesmo literário que nunca teve, mas a um lento alargamento de colaboradores, poetas e tradutores, que, na maior parte dos casos chegaram até nós, e continuam a chegar, de forma espontânea. O número 24 é o maior de sempre, chegando a superar as 200 páginas, por um lado devido ao afluxo de colaborações, solicitadas ou espontâneas, e por outro lado para lhe imprimir uma intenção comemorativa, que se manterá no número 25 que esperamos editar igualmente neste vigésimo aniversário da sua existência. Não sabemos se poderemos manter esse número de páginas, seja por motivos de colaboração suficiente, seja por motivos de custos. Se chegámos até aqui foi apenas porque optámos por uma fórmula sóbria e encontrámos maneira de a realizar com baixos custos e uma pequena tiragem. Se o leitor aprecia a DiVersos na sua sobriedade, poderá querer apoiá-la, mantendo ou renovando a sua assinatura, tornando-se assinante ou oferecendo uma assinatura a um amigo, ou por qualquer outra forma a seu gosto.

Pelas edições publicadas, 24 apenas em 20 anos, é fácil ver que a intenção inicial que nos levou a subintitular a série «revista semestral de poesia e tradução», subtítulo mais tarde abandonado, não se concretizou. Curiosamente, após uma interrupção longa entre 2009 e 2012, conseguimos finalmente alcançar grosso modo uma regularidade de dois números em média por ano… Esperamos mantê-la assim pelos anos de longevidade que nos restarem.

DiVersos nº24

Vinte anos de poesia e tradução de poesia na DiVersos são assinalados neste número e sê-lo-ão no próximo. Pela primeira vez inserem-se traduções de poesia dinamarquesa. O poeta traduzido é Benny Andersen e o tradutor para português é o polaco Marcin Wlodek, que tem como segunda pátria a Noruega e se especializou em estudos portugueses. Faz-nos lembrar Alessandro Zocca, italiano que vive em Moscovo e traduziu poetas russos para português incluídos em números nossos anteriores, para além de poemas seus em português também na DiVersos publicados. As outras línguas presentes neste número foram já antes várias vezes traduzidas aqui: Christos Kyrkindanos, do grego moderno, por Rosa Salvado Mesquita; Efraín Huerta, mexicano, traduzido do castelhano por Francisco José Craveiro de Carvalho, matemático, poeta e tradutor, que pela primeira vez colabora com a Diversos, e logo com traduções de três poetas. Além de Huerta, e agora a partir do inglês, devemos-lhe traduções dos norte-americanos Robert Creeley, poeta grande na esteira de Ezra Pound e de William Carlos William, e de Michael Kelleher, que foi próximo de Creeley e mantém intensa atividade literária e cultural. Graças à recomendação amiga de Luís Quintais, pudemos assim beneficiar da generosa cooperação de F. J. Craveiro de Carvalho.

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DiVersos nº23

A natureza foi desde sempre um dos temas predominantes da poesia universal e com especial força em algumas épocas. Modernamente, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, essa presença tem vindo a apagar-se, com o ser humano e os horizontes humanos a ocupar quase exclusivamente a boca da cena. Nas exceções, nota-se que, tanto ou mais que a admiração, a contemplação ou exaltação de épocas anteriores, se observa a par delas a consciência e o lamento da sua destruição pela civilização (ou barbárie) atual em grau historicamente nunca igualado. Contemplação, exaltação e requiem estão presentes nos três poetas – paulo da costa, Reiner Kunze e Ricardo Lima – com que aqui se inicia a etiqueta «Poesia e Natureza». Tal não quer dizer que a temática destes poetas seja exclusivamente a natureza. Mas apenas que a sua poesia, pelo menos nos poemas aqui inseridos, tem a natureza como presença forte. E, claro, haverá poemas que, sem essa etiqueta, a poderiam ter. É já o caso neste número do poema «A ornitoptera», de Guido Gozzano.

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DiVersos nº22

Recebemos há tempos, como oferta da Associação Porta Treze, de Vila Nova de Cerveira, animada por Luandino Vieira, quatro pequenos livros de quatro poetas angolanos, todos editados na coleção Vozes de Grilo, da editora NósSomos, de Luanda e Cerveira. Graças à gentileza do editor, conseguimos contactar os quatro autores e convidá-los a colaborar neste número da DiVersos.

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DiVersos nº21

Na aldeia-globo, com fios e sem fios, sabemos hoje por vezes mais sobre os antípodas que sobre a terra ao pé de porta – e o mesmo se pode passar com a poesia e com as línguas de que a traduzimos. Desta reflexão à vontade de seguir mais de perto a poesia escrita em galego vai um pequeno passo, que adiante tentaremos explicar. E começando (recomeçando) por algum nome, que outro mais indicado que o de Rosalía de Castro?

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Pensar Como uma Montanha

Uma nova pequena tiragem deste livro, que estava totalmente esgotado, foi feita recentemente. Passados sete anos desde o lançamento, é possível encontrar de novo à venda nalgumas livrarias um documento de referência incontornável para a compreensão do pensamento ambiental. Pode igualmente ser encomendado diretamente ao editor: use os contactos à direita.

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DiVersos nº20

Um convite a colaborar feito a Eduarda Chiote resultou em algo nunca antes acontecido na DiVersos: a publicação de poesia inédita de um só autor ao longo de 26 páginas. O conjunto que recebemos na sequência desse convite, Fiat Lux, além de notável, não era suscetível de ser fragmentado por meio da escolha de apenas alguns poucos dos seus 36 poemas. Deixar Fiat Lux de lado seria impensável – restou publicá-lo na íntegra, com a consciência de assim prestarmos um serviço à poesia de língua portuguesa.

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À Sombra dos Grandes Animais Extintos

«Receita-me o sintomatologista
comprimidos, dizendo: por enquanto
isto.
O que preciso Dr., devia ter dito,
O que preciso Dr. é de palavras boas
como uma faca na mesa para cortar o pão
e umas mãos que pousem verdes as azeitonas
Um sorriso que acompanhe o vidro baço e grosso
com o vinho que as mesmas mãos plantaram
O que preciso Dr., devia ter dito, é de uma palavra
boa
como uma onda calma espumejando nos pés.
Por enquanto os comprimidos, diz-me o especialista
acreditando – quem sabe – que a ciência da conversa
pode germinar bondades
como um sol açucarando os frutos.»
Helena Filas Afonso, À Sombra dos Grandes Animais Extintos

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Maravilhar-se – Reaproximar a Criança da Natureza

Este livro constitui, para além do seu enorme interesse específico em matéria de educação e natureza, uma homenagem à Autora, nos 50 anos (1962 – 2012) da edição de Primavera Silenciosa (Silent Spring), o livro que mais celebrizou duradouramente Rachel Carson, publicado pela primeira vez em setembro de 1962.

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O Pequeno Mal

O Pequeno Mal é constituído por 51 poemas, escritos entre 2006 e 2011. Aconselha-se a pessoas que gostem de vinho, de imaginar que existem quatro estações, do mar, de árvores, de música, de vinho outra vez e, moderadamente, de outras pessoas. Aconselha-se, portanto, e no geral, a seres humanos. O título do livro é uma consideração sobre a poesia, particularmente do lado de quem a faz, que pode ou não ter directamente a ver com o tipo de poemas que lá se encontram. Da mesma maneira, ao longo do livro, fala-se num soldado duas vezes e não é certo que seja o mesmo em ambas.

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Sol Nascente

São desenhos-escrita que deslizam pela página, textos sem texto dentro e textos de texto-pensar. É isso que Sibila Madzalik de Moraes faz em Sol Nascente, o seu primeiro livro – tenta captar a durabilidade do instante, escreve totalidades em redução, cria imagens-luz. Fragmentário, o discurso foge àquilo que poderia ser considerado narrativa visual, transformando-se em poema-folha, pedaço de mina, onde se solta, contida, a mudez da autora, ou melhor a sua escuta do silêncio, escuta de olhar intacto.
Ana Marques Gastão,
no prefácio

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Safra do Regresso

Suplemento extemporâneo a Flor De Um Dia, é o subtítulo desta Safra do Regresso. Regresso do autor da última (1991-2005) de várias permanências no estrangeiro, e que se quis definitivo. Flor De Um Dia – Poesia Inédita Reunida, publicada neste mesmo editor em maio de 2009, integra toda a poesia escrita e retida pelo autor entre 1960-61 e 2005.  Em Safra do Regresso recolhem-se poemas escritos sobretudo após fechada a compilação de Flor de Um Dia e que retomam algumas das vozes a que se alude no primeiro poema dessa recolha. Dada a continuidade temática  e formal de cada uma das muito diversas vozes assumidas, o leitor interessado pode fazer desta Safra do Regresso, livro pequeno e que se lê depressa, um prólogo à leitura ou releitura de Flor De Um Dia como se fosse ainda o mesmo livro.

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Ecologia da Saúde

Robin Stott propõe aqui soluções aos problemas-chave que afligem o nosso atual sistema de saúde. Se quisermos constituir um verdadeiro serviço de saúde pública e não um «serviço da doença», precisamos de introduzir mudanças significativas nos processos de tomada de decisões. Mostra-se de que maneira uma interação reforçada entre as pessoas pode contribuir para a promoção da saúde, para a justiça social e para a melhoria do ambiente. É delineado um programa para a constituição de organizações locais que tenham por objetivo a busca da saúde, as quais poderiam tornar-se unidades de governação ou gestão local.

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Campa Rasa e outros poemas

Uma poesia alegre e triste… como a vida. Vindo de raízes surrealistas, abjecionistas e, em parte, neo-realistas, a poesia de Afonso Cautela teve sempre uma nota muito própria e diferente. Em Campa Rasa afloram temas de ressonância do mundo e da vida que a aproximam de um diálogo com Teixeira de Pascoaes, Frei Agostinho da Cruz, António Correia de Oliveira e Bocage.

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Instrumentos de Sopro

Paisagens interiores [Inscapes], eis o subtítulo deste livro. Livro que nasce da colectânea El lugar, la imagen, editada em 2006 em Espanha pela Editora Regional da Extremadura, com tradução para castelhano de Antonio Saéz Delgado (Professor na Universidade de Évora). Inclui um Prólogo do poeta brasileiro C. Ronald: «Ruy Ventura não tem nada de poeta português. Já desponta com universalidade.» No final, inclui notas do Autor, que referem as paisagens exteriores sem as quais não teriam existido as interiores que se vazam nos poemas do livro. Que incluem também paisagens culturais: objetos de arte, monumentos, achados arqueológicos.

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Vida Adentro

Vida Adentro é o segundo livro publicado por Jorge Vilhena Mesquita, no qual o autor reúne a poesia que escreveu entre 1985 e 1990. Retomando algumas formas poéticas do seu livro anterior, O Sentimento da Ausência – o enigma, o rubai, o haiku, a redondilha -, e com ele partilhando uma poética da intensidade e da concentração expressivas, Vida Adentro marca porém, como o próprio título indicia, uma inflexão na sua obra da esfera do «ser» para a esfera da existência. Melhor do que uma paráfrase, talvez um dos seus poemas, Dilema de um homem, a exprima: «Não posso não agir (a tentação/da cobardia é vã neste momento)./Entre dois males cabe-me escolher,/que um erro meu deixou como opção./E quanto num e noutro há a perder/antecipando, disso me atormento./Que várias vidas, ambos, mudarão…».

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Ecoaldeias

Descreve-se a história e o potencial do movimento pelas ecoaldeias, na perspetiva da sustentabilidade. Na encruzilhada dos problemas da energia, da vida social e da criação cultural. As ecoaldeias, comunidades locais no campo ou na cidade, têm por objetivo minimizar o seu impacto ecológico mas maximizar o bem-estar e a felicidade e têm vindo a multiplicar-se um pouco por todo o mundo, assentes num pensamento cuja origem se pode encontrar em Schumacher e Gandhi, no ecofeminismo e no movimento de educação alternativa. Este caderno aponta pistas para criar uma cultura de paz, holística, orientada para a educação integral da pessoa.

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Flor de Um Dia – Poesia Inédita Reunida

Presentes neste livro a alegria, a tristeza, o amor, a morte, e sobretudo a vida; a viagem no espaço e no tempo e a viagem fora deles, a filosofia através da poesia (ou será o contrário?), o sentimento da natureza e da destruição dela, a dimensão cósmica, humana e desumana, a mentira da guerra e a impotência da paz, a solidão e a multidão, a fraternidade, a amizade, mas também a catástrofe e a barbárie.

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Criar Cidades Sustentáveis

Como podemos nós devolver o coração a pulsar da convivialidade às nossas cidades? Como podemos nós assegurar a criação de cidades assentes na diversidade para o novo milénio — lugares caracterizados pelo vigor cultural e pela beleza física que são também sustentáveis em termos económicos e ambientais? Este Caderno Schumacher aponta o caminho a seguir.

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O Mistério da Torre Verde

Como é que o Tio Tomás, que nasceu tão pobre, se tornou dono da valiosa Casa da Torre Verde e dos seus jardins? E como fez ele amizade com o Estácio, um rapazito de apenas oito anos quando se conheceram? E porque tem ele medo que alguns dos seus parentes, afastados mas poderosos, venham a anular o seu testamento? É que, nesse testamento, Tomás decide o seu belo sonho: depois de morrer, a Torre Verde deverá transformar-se num parque para as crianças da cidade. E numa biblioteca.

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Transformar a Economia – Desafio para o Terceiro Milénio

Como poderemos nós dar nova forma ao nosso sistema económico para que ele vá ao encontro das necessidades das pessoas e da Terra no século XXI? Neste Caderno, James Robertson aponta medidas para construir um mundo mais saudável e com maior igualdade e identifica caminhos chave através dos quais as pessoas podem trabalhar em conjunto com vista a transformar a economia da alimentação e da agricultura, do trabalho e dos meios de subsistência, do desenvolvimento local, das viagens e dos transportes, da energia, da tecnologia, da saúde e do comércio internacional. Lança ainda questões inovadoras sobre impostos e tributação para uma economia mais sustentável.

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A Maldição das Bruxas de Ferrel

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Um livro que enriquece a história contemporânea de Portugal, com minúcia e realidade  apesar da construção ficcional – a luta do povo de Ferrel, Peniche, em 1976,  para se proteger do projeto de construção de uma central nuclear . Os problemas energéticos vistos a uma luz rigorosa numa narrativa de mistério e aventura.

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O Momento do Amor

Um livro tão cintilante e luminoso como a luz do mar egeu onde ganhou vida e expressão. Edição bilingue – traduzido do grego moderno por José Carlos Marques. Cerca de metade dos poemas deste livro, cuja autora reside em Atenas e na ilha de Siro, foram musicados pelo famoso compositor grego Mikis Theodorakis e gravados em disco (intitulado Mía Thálassa), pela cantora grega radicada em Paris, Angélique Ionatos.

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Intimidade – Caminhos Obscuros e Caminhos Luminosos nas Relações de Amor e Intimidade

O intercâmbio quotidiano no interior do casal, entre pais e filhos, entre amigos ou entre colegas, é um terreno fértil para a irrupção de relações doentias (com base em estratagemas ou na simbiose). Continuamente, e de modo muitas vezes inconsciente, somos tentados a arrastar para esse terreno os nossos semelhantes. Continuamente também, temos que nos defender e resistir às tentativas por eles feitas para nos arrastarem para lá. É por isso importante desenvolver ao máximo uma intuição e uma atenção vigilantes que nos permitam detectar a tempo os convites ao jogo neurótico que circulam entre os que nos rodeiam, e os que dirigimos aos outros sem nos darmos conta.

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Como colaborar na DiVersos

Para os autores de originais em língua portuguesa, seja qual for o seu país de origem, enviar o equivalente a 4 a 8 páginas (os poemas deverão ser inéditos em papel; poderão eventualmente estar já disponíveis na Rede). Para os autores traduzidos, enviar no mínimo três poemas traduzidos de um mesmo autor, seja qual for a língua de origem. O envio deverá ser de preferência por email com anexo em formato .doc ou .docx. Enviar sempre uma curta nota bibliográfica do autor ou do autor e tradutor, de 6 a 8 linhas, com indicação do ano e local de nascimento (e eventualmente ano e local de falecimento).

Coordenação editorial

A revista DiVersos foi fundada em 1996 pelos quatro poetas abaixo:

Carlos Leite
Nasceu em 1949 em Vila Real. Publicou, de poesia: O Pesquisador de Ouro, A Máquina Vaporosa, O Brilho do Residual, O Desflashar dos Espaços, e Ostende. É tradutor profissional, em Bruxelas.

Jorge Vilhena Mesquita
Jorge Vilhena Mesquita nasceu no Porto em 1960. Vive em Bruxelas desde 1985. Tem publicado na DiVersos poemas seus e traduções de vários poetas (Petrarca, Shakespeare e Nietzsche, entre outros). Em 2005 e em 2010, respectivamente, publicou nas Edições Sempre-em-Pé os livros de poesia O Sentimento da Ausência e Vida Adentro. Uma ampla recolha da sua poesia publicada está disponível no sítio Web “Poesia de Passagem”.

José Carlos Marques
Nasceu em 1945 no Porto. Licenciado em filosofia, foi professor do ensino secundário, editor, assessor e leitor editorial e tradutor profissional numa organização internacional europeia. Foi um dos fundadores das Edições Afrontamento, da revista e da coleção Espaço e da revista de poesia Erguer a Voz e Cantar.

Manuel Resende
Nasceu em 1948 no Porto. Poeta e tradutor profissional. Publicou Natureza Morta com Desodorizante, Em Qualquer Lugar e O Mundo Clamoroso.

Os números 1 a 7 da DiVersos foram coordenados pelos quatro fundadores. A partir do número 8 a coordenação editorial é assegurada por Jorge Vilhena Mesquita e José Carlos Marques.

DiVersos – Poesia e Tradução

Uma série de poesia e tradução de poesia que acolhe todas as correntes estéticas e literárias do passado e do presente, atenta apenas à voz que em cada poema se exprime. A publicação é semestral e ao todo inclui algumas centenas de autores e tradutores nacionais e estrangeiros.

A DiVersos não tem distribuição comercial e apenas pode ser comprada diretamente ao editor, seja em números avulso seja em assinatura. Os números da DiVersos do n.º 2 (n.º 1 esgotado) ao n.º 15 custam €2,00 cada, os seguintes, €10,00 cada. Portes de correio variáveis conforme o peso. Para assinar uma série de quatro números (em Portugal: €30,00, para o estrangeiro, €38,00) ou para informações ou dúvidas, use os contactos gerais da página. Os novos assinantes ou os assinantes que renovem assinatura são convidados a escolher um dos títulos de poesia das Edições Sempre-em-Pé, que lhe será enviado gratuitamente como expressão de boas-vindas.