DiVersos nº36

DiVersos nº36

Apenas 120 páginas desta vez. E apenas nove autores de língua portuguesa; somente quatro tradutores e somente três autores traduzidos. Com exceção do número de páginas (esse sim, resultante de uma defesa face à inflação), a redução não é intencional, deriva antes da extensão maior, circunstancial, de alguns autores, por opção do editor. É o caso sobretudo da miniantologia de António Salvado – que é também uma homenagem – e que é apenas, por agora, metade do que tencionamos publicar, a completar no n.º 37, previsto para a primavera-verão de 2024. E é igualmente o caso de Deodato Santos, cujas Variações podem surpreender pela arrumação fragmentária e pela multiplicidade de perspetivas, mas que nos pareceram só ganhar sentido se inseridas na íntegra.

Outros autores de língua portuguesa: Ana Isabel Mouta, de quem já há alguns anos se incluíram aqui alguns poemas, e de cujo primeiro livro, Paiol, no prelo, selecionámos alguns outros; Eduarda Chiote, com um longo poema (um poema de poemas) dedicado a Arnaldo Saraiva, escrito no tempo de casulo que foram os confinamentos da pandemia de 2020; e Luísa Palma, que publicou na DiVersos várias vezes desde o n.º 3, uns «escritos breves como breves são as nossas vidas» onde ecoa o timbre alentejano e suas lonjuras.

Pela primeira vez na DiVersos, mas com obra há muito firmada, Diogo Vaz Pinto, convidado por José Lima, que dele escolheu poemas retirados do blogue do Autor e um deles do seu livro mais recente, Sombra Selvagem; e Joaquim Saial, com vasta obra de erudito e investigador além de poeta, de quem aqui trazemos uma «Balada da hora de ponta», na qual humor e realismo se entretecem, e dois poemas da série «Poemas do Rock’n’Roll», que evocam Bob Dylan e Ginger Baker.

Quatro tradutores, dissemos. Dois deles do português para outras línguas, com poemas de António Salvado traduzidos para o japonês por An Oshiro, e para o romeno por Elena Liliana Popescu. Pela mão de Francisco José Craveiro de Carvalho, de outras línguas para o português: do castelhano, alguns poemas de Eloy Sánchez Rosillo, e do alemão, de Michael Krüger, tomando como ponte a versão inglesa de Hans-Christian Oeser.

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DiVersos nº34

DiVersos nº34

Se alguma caraterística distingue este número do padrão habitual da DiVersos, será que, em 17 autores, apenas cinco são autores traduzidos para português (sem contar portanto com Tahar Bekri pelas razões apontadas na página anterior). Ou seja, um terço, quando costumam rondar a metade. Billy Collins, poeta americano traduzido do inglês por Francisco José Craveiro de Carvalho, numa apresentação bilingue; Dusan Matic, poeta sérvio muito próximo dos surrealistas franceses, aqui presente em versão portuguesa de Nicolau Saião; José Watanabe, poeta peruano de extrema imaginação visual, traduzido do castelhano por José Lima; Lathaprem Sakhya, poetisa e pintora indiana que escreve e traduz em inglês, hindi, malaiala e tâmil, e vertida em português por Maria do Sameiro Barroso; e Yuleisy Cruz Lezcano, poetisa cubana radicada em Itália, traduzida por Carlos Ramos.


Mas o espetro linguístico não se reduz ao português, ao inglês, ao francês ou mesmo ao sérvio; nem mesmo ao malaiala e ao tâmil, línguas nunca antes vistas nestas páginas. Também, em traduções de poemas em português da autoria de António Salvado, estão presentes pela primeira vez mais dois registos linguísticos: esperanto e mirandês. No poeta angolano Carlos Monteiro Ferreira, que escreve em português, ecoam línguas de Angola, nomeadamente o umbundu e o kimbundu; em Luísa Costa Gomes, escritora portuguesa firmada sobretudo pela sua ficção, vamos encontrar o papiamento, crioulo baseado no português e no espanhol, ainda vivo e ativo no Caribe holandês. E, por falar em holandês, o poeta basileiro Zuca Sardan, de quem tivemos conhecimento por Ana Carvalho (que nos trouxe já anteriormente vários autores traduzidos do neerlandês e do africânder / afrikaans) sob forma de uma antologia bilingue português-neerlandês, aparece nesta DiVersos com uma miniantologia por nós selecionada. A nosso pedido, o primeiro e último poema dessa seleção figuram ao lado da sua tradução em neerlandês por Harrie Lemmens, que traduziu já para o neerlandês mais de 100 livros de autores de língua portuguesa. Se isto não é admirável…


Mas o arco-íris linguístico está também, como já vimos, em alguns autores de língua portuguesa. É, mais uma vez, o caso de Maria do Sameiro Barroso, que surge com um poema em português por ela traduzido para inglês e alemão, e para o malaiala e o tâmil por Lathaprem Sakhya. Maria Okeanida, madeirense radicada em Toulouse, numa segunda colaboração com a DiVersos, traz-nos poemas em português, sendo que em dois deles encontramos várias linhas em francês, como integrantes do poema e não como tradução. De António Salvado vimos já que por via dele somos introduzidos ao esperanto e ao mirandês em que foram traduzidos alguns poemas seus; na poesia de Carlos Monteiro Ferreira perpassam algumas línguas africanas, como referimos.


Outros autores de língua portuguesa (citámos já, além de outros, Maria Okeanida, Maria do Sameiro Barroso, Luísa Costa Gomes e Zuca Sardan) são também neste número Ana Lobo (com sua predileção «japonesa» pelo haiku), António Cândido Franco, Nadine Nevsky, Paulo Jorge Brito e Abreu, Sofia Sampaio e Tatiana Faia. Desta última, esperamos a oportunidade de tê-la futuramente em traduções suas a partir do grego clássico e do grego moderno, vindo assim juntar-se, se o quiser, aos helenófilos que povoam a DiVersos desde o seu primeiro número: Manuel Resende (com enorme saudade), Rosa Salvado Mesquita, Maria da Piedade Maniatoglou, o próprio editor da DiVersos, e, para o grego clássico, Alípio Carvalho Neto, escritor brasileiro que traduziu Arquíloco. Mas, escrito em Atenas, o poema de Tatiana Faia inscreve-se já, desde a dedicatória ao local de primeira escrita, e sobretudo pelo que evoca, na nossa tradição helenófila.

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